Opinião

Conflito entre Venezuela e Guiana

Por João Carlos M. Madail
Economista, Professor, Pesquisador e Diretor da ACP
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Passados mais de cem anos do estabelecimento das atuais fronteiras entre Venezuela e Guiana, o governo venezuelano questiona seu povo se deve rebater a atual fronteira entre os dois países. Cabe lembrar que o que existe hoje foi estabelecido pelo Laudo Arbitral de Paris, que definiu em 1899 os limites atuais entre os países. Participaram da resolução dois árbitros britânicos e dois norte-americanos, sendo um deles indicado pela Venezuela, além de um russo indicado pelos quatro anteriores. Os guianeses não têm dúvidas sobre a validade do Laudo Arbitral e da fronteira terrestre, que a Venezuela aceitou e reconheceu como sua fronteira internacional por mais de 60 anos.

A Venezuela tem sido um dos principais palcos de tensões da América Latina, enfrentando crises econômicas e políticas intermináveis. Há alguns anos, o país tem sido alvo de sanções impostas pelos Estados Unidos e pela Europa, traduzidas num bloqueio econômico. Atualmente o país acumula inflação de 182% ao ano, segundo o Banco Central Venezuelano (BCV), cujos indicadores não são totalmente confiáveis. A crise econômica na Venezuela começou a se manifestar em 2013, atingiu seu ápice em 2018, e até hoje deixa a grande maioria da população sem acesso a produtos básicos. O povo tem fugido da ditadura que comanda o país e a crise econômica piora diariamente.

Do lado da Guiana, a história iniciou antes da chegada dos europeus no continente americano no final do século 15. Estima-se que a presença humana na região remonta há cerca de 20 mil anos, sendo que o território foi dominado por dois povos indígenas; os aruaques e os caraíbas. Mais tarde, no século 20, a Guiana foi colonizada pela Grã Bretanha. O país está localizado na costa do Atlântico Norte, na América do Sul, sendo marcado por sua densa floresta tropical. O idioma oficial é o inglês e o país é culturalmente vinculado à região caribenha. A capital é Georgetown e sua arquitetura é colonial britânica.

Ambições territoriais venezuelanas sobre a região guianense de Essequibo têm aumentado o temor de conflito armado na América do Sul. Especialistas, no entanto, apontam que confronto no curto prazo é pouco provável. A Venezuela tem no petróleo uma das principais fontes de sustentação econômica. Sempre que os preços do barril oscilam negativamente, o país entra em desespero, como aconteceu recentemente na pandemia. A paralisação da produção de petróleo tem sido a principal razão para o agravamento da crise econômica do país. Um estudo divulgado pela Pesquisa de Condições de Vida, realizada pela Universidade Católica Andrés Bello, mostrou que 94,5% da população da Venezuela vivem na pobreza. O problema também foi impulsionado pelas medidas adotadas pelo governo de Nicolás Maduro para combater a propagação da Covid-19, como a paralisação de parte do setor produtivo por longo tempo, conforme a pesquisa. O país latino apresenta um elevado número de desempregados, com 8,1 milhões de pessoas vivendo na situação de miserabilidade. Desse total, 3,6 milhões desistiram de procurar emprego, enquanto 1,5 milhão são mulheres que não conseguem trabalhar por conta das atividades maternas.

A crise em torno da região de Essequibo parece ter reacendido um antigo temor comum à direita e à esquerda no Brasil; a presença de tropas norte-americanas em plena floresta amazônica. A preocupação ganhou novo impulso recentemente depois que o Comando Sul das Forças Armadas norte-americanas iniciou exercícios militares em parceria com as Forças de Defesa da Guiana. No Brasil, o principal temor com a escalada da crise entre os dois países é que ela sirva de pretexto para a presença de militares estrangeiros na Amazônia. Segundo o embaixador brasileiro Celso Amorim, "a região amazônica não é qualquer região, é um espaço que sempre tem sido objeto da preocupação do governo".

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